terça-feira, junho 23, 2009

Diáspora brasileira


É ruim sentir saudades, mas tem um lado bom em passar um tempo longe do seu país. Você pode aloprar à vontade que ninguém vai te julgar. E nem podem, porque para quem pinta o cabelo azul, usa saia estampada com calça xadrez, sai fantasiado na rua para tomar todas as cervejas dos pubs e deixam as cuecas aparecendo porque acham lindo andar com a calça caindo, tem moral para falar o quê? Por exemplo, vou fazer compras com uma mala de rodinha para não carregar peso – é ridículo, mas ninguém me conhece mesmo....tô nem aí. Ando com a roupa amassada, canto música brasileira que ninguém entende e de quebra estou frequentando aulas de break dancing. Nas festas de brasileiros, danço tudo quanto é samba, salsa, forró, reggaeton (que aqui classificam como música brasileira ) e até o funk das cachorras. Só não criei coragem para dançar na boquinha da garrafa, que rola em quase todas as festas. É a famosa diáspora, a gente precisa encontrar os iguais de vez em quando, embora eu não tenha vindo aqui para isso. Mas é muito legal poder fazer um pão de queijo, manjar, queijadinha, falar palavrão em português sem correr o risco de não ser entendido.
O que não é muito fácil é entender as contradições desta sociedade, talvez por isso a gente precise se relacionar com culturas mais acessíveis aqui. Por que eles chamam todo mundo de ‘love’, mas se de fato eles não querem nem fazer amizade? Por que eles vendem roupa de verão se não faz calor? Por que tem gente pelada na televisão o tempo todo se eles são tão tímidos? Por que todo mundo gosta de ler fofoca mas quase não falam? Por que tem duas torneiras na pia com águas que não se misturam, uma queima e outra congela? São perguntas que não querem calar. E a água ainda vai pelo ralo pelo lado contrário, só porque estou no hemisfério norte...isso já é demais!

5 comentários:

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Aí, Estela, arrasando no requebrado, hein?? rsrsrs bjs saudosos

johnny bright disse...

Pois eu saí de Jundiaí rapidinho pra morar em SP justamente por isso, porque o anonimato é uma benção. Mas bom bom bom mesmo é saber ligar o foda-se cercado de gente conhecida, mas acho que isso, só na próxima encadernação. Bjs, aproveite tudo que tem direito. E o que não tem também.

fran disse...

Estela, Estela, o que a senhorita anda aprontando por aí, além de tudo o que contou, hein? rs

bjo,

Denise Sammarone disse...

Flor, este texto traduz tudo o que senti quando estava em Madrid. Tb dancei na boquinha da garrafa e até Carlinhos Brown - que confesso nunca ter dado muita ateção - mas eles AMAM por lá.
Confesso tb que depois de voltar pro Brasil sou mais livre. Até incorporei alguns hábitos esquisitos - como ir ao supermercado com carrinho (quando era uma feliz usuária do transporte público paulistano).
Esté, aproveita muito! Você merece cada uma das vivências aí por que é uma batalhadora sem igual!
Tenho saudades (me perdoe pela ausência - a vida andou meio louca por aqui).
Um beijo grande.

Mauricio Lucio disse...

Volte logo. Estamos com saudades. Como se diz "saudades" em inglês?
Pinte o cabelo de azul, use roupas estranhas, faça o que quiser, mas volte logo. O anonimato é tão bom, que até Deus o exercita. Mas ele não é de carne, como nós, que temos coisas mais interessantes do que ele para fazer. Venha aloprar por aqui.