sexta-feira, dezembro 29, 2006

Espírito natalino



Parece o fim do mundo. Correria, prazos apertados, estoque de comida. Tudo fica pior em dezembro: o trânsito, o humor, a pressão, o trabalho, o supermercado, os consultórios médicos, a conta do banco. A síndrome do Natal começa em novembro e só termina depois do almoço do dia 25. Por que será que tudo tem que acontecer até o dia 24? Não pode ficar nada para o dia 26? Até os amigos têm que se encontrar em dezembro: Pois é, vamos ver se a gente se encontra antes do Natal? Para não passar em branco, né?

Às vezes esses mesmos amigos ficam o ano inteiro sem se ver, mas têm que se encontrar antes do Natal... E daí vem a explicação para aqueles quilos a mais. Duvido que alguém engorde tanto por comer um pouco a mais no dia da ceia. Mas quase todos os dias de dezembro comemorando no almoço e no jantar com os amigos, com a família, na festa da firma, não tem boa forma que resista. Ah, mas no Natal pode comer uma rabanada, um torresminho, né? Como se fosse uma data à prova de engorda.

Parece que esta época serve de desculpa para tudo. Aqueles que não conseguem dar a menor atenção para os outros é porque estão trabalhando muito, comprando presentes ou preparando comida. Tudo isso para quê? Para passar um dia. O pior é que no meio deste caos todo mundo ainda é obrigado a ser feliz, porque é Natal, oras.

Um mês de horror para passar um dia feliz. Isso quando dá tudo certo, quando a família é unida e colaborativa. O que mais tem por aí é uma pessoa da família convidando os demais e ninguém nem pensa que precisa participar, no sentido amplo da palavra. Será que quem recebe as pessoas gosta de passar horas no supermercado lotado e depois passar horas no fogão cozinhando?

E não pára por aí, tem gente que reclama que o peru estava seco e vai embora à seco também, nem se oferece para lavar a louça. Enfim, mas é Natal, então tem que ser feliz, mesmo que você fique tão cansado que não consiga nem ficar acordado até a meia-noite. Será que é esse o espírito de Natal que tanto falam?

Jingle bells, batman smells, Robin flies away.....

segunda-feira, dezembro 04, 2006

O táxi tem ouvidos


Eu sempre achei que jornalistas eram as pessoas mais bem-informadas. Mas acho que estamos perdendo espaço para outra categoria, a de motorista de táxi. O jornalista entende daquilo que ele se propõe a escrever e vai atrás das melhores fontes para levar informações aos leitores. O motorista, não. As fontes é que vão atrás dele. As pessoas pegam um táxi ou um transporte da empresa e agem como se houvesse um piloto automático dirigindo o carro, relatando entre si desde fatos íntimos até informações confidenciais das empresas.

Como informação parada não serve para nada, o negócio e levar adiante. Já que as informações chegaram sem pedir licença, elas vão embora da mesma forma. Pelos motoristas, dá para descobrir o melhor restaurante, onde fazer compras gastando pouco, o novo hotel que foi inaugurado, como está sendo a atuação do prefeito e o andamento das obras da cidade.

Mas eles também podem ser os mensageiros do azar. São os primeiros a saber se a empresa vai fazer corte de pessoal e disseminam o pânico antes mesmo de a boataria começar nos corredores. Conheço uma empresa que proibiu os funcionários de conversar com os motoristas.

Exageros à parte, as pessoas tendem a se abrir com alguns profissionais, especialmente aqueles que ficam muito tempo com a gente. Os médicos dificilmente entram nesta classificação, mas quem nunca contou a briga com o namorado para a cabeleireira, ou uma dificuldade profissional para a secretária. São várias as categorias que sabem de tudo.

As pessoas vão continuar confiando no sigilo dos interlocutores, mesmo sem nunca ter visto o indivíduo antes – imaginam que a pessoa não tem motivos para passar as informações para frente por não conhecer ninguém do mesmo círculo. Mas, pelo sim pelo não, eu sempre tenho em mente que o mundo é pequeno, só deve ter umas 80 pessoas – é mentira que tem 6 bilhões de habitantes.