domingo, novembro 12, 2006

Amarelo a toda prova

Eu torci para o domingo amanhecer chuvoso, mas o dia estava perfeito. Sol claro, nenhuma nuvem, temperatura amena, perfeita para correr! É, no fundo, eu estava com medo de fazer feio
feio na minha primeira corrida de rua, 10 quilômetros – não poderia ser uns
cinco? Nunca consegui cumprir 10 quilômetros na esteira e, segundo meu treinador, é bom
correr na academia pelo menos 50% a mais da distância na rua, em função dos
obstáculos. Chegando lá, descobri o quanto é importante o estímulo do ambiente e por que não dava para ficar mais que 40 minutos na esteira. O pior é acordar às 6h30 da manhã no domingo, mas vencida esta etapa da cama que não quer me largar, tudo é festa. Antes mesmo de chegar, já se vê um mar de camisetas amarelas da Nike na rua. Pessoas alegres, em grupos, alongando, tomando água e opps! Preciso ir ao banheiro antes de começar. Senão, só daqui a duas horas.

Parecia o banheiro do cinema depois da sessão: filas e mais filas. Já eram 8h00, início da prova. “Acho que vai atrasar, senão essa gente não estava aqui”, pensei. Doze minutos depois, eu ainda na fila, passou o Fábio correndo – ele já estava na metade do percurso e eu ainda na fila do banheiro! Tudo bem que ele ganhou a corrida, mas já pensei que por causa do xixi eu seria impedida de correr. “Vamos agilizar o xixi”, gritavam as pessoas.

Cheguei na largada às 8h23. Ninguém me pediu nada, nem me impediu de correr. Beleza. Vamos lá. Dois quilômetros depois, a banda cover U2 Brasil estava incentivando os participantes. Nada mau, correr ao som de “Vertigo”. Depois do quinto quilômetro, ouvi o som de “Day Tripper” , cantado pelo Beatles Forever. Até acelerei o passo.

Como o mundo não é só feito de rock, a bateria da escola de Samba Rosas de Ouro colocou o seu batuque para incentivar os mais ofegantes, e quem já tinha completado a prova voltava para dar força aos retardatários. Com tanto estímulo ao redor, cheguei ao final da prova como se estivesse caminhando no parque – depois de uma hora e dez minutos, tive uma sensação de vitória e me animei para as próximas. Da próxima vez, não vou amarelar.


domingo, novembro 05, 2006

Um letiste, por favor!

Visitar um país em que se fala uma língua alienígena é um desafio. Como fazer as pessoas entenderem o que eu preciso sem trocar uma única palavra? O meu sonho de conhecer Praga, capital da República Tcheca, tinha este porém. Mesmo de posse de um dicionário, não dá para imaginar como pronunciar palavras com quatro consoantes juntas. Como é que eu vou pedir um sorvete? – zmrzlina!!

A boa notícia é que muitas vezes não precisamos falar. Os tchecos também acham nossa língua tão impronunciável quanto o inglês, o espanhol e o francês. Quer um sorvete? Aponte na vitrine que o balconista vai saber o que você quer. Comprou uma água na rua e quer entrar no supermercado? Dirija-se ao segurança e mostre o produto, ele providencia uma etiqueta e ninguém vai te cobrar duas vezes.

Quando dá tudo certo, não há nenhuma necessidade de trocar uma só palavra, nem na imigração. Basta entregar o passaporte e o seu interlocutor mal olha para você. Mas em pelo menos um momento lamentei não ter feito um curso rápido de tcheco. Foi quando precisamos de um táxi às 4 da manhã para pegar um vôo de volta para o Brasil. Combinemos com o taxista que nos trouxe do aeroporto quando chegamos, bem no estilo “Mim Tarzan – you Jane” - a nos buscar na volta às 4h00 da manhã. “No probleme, no probleme”, garantia ele.

Só que na hora combinada chegou outra pessoa no lugar do Yivî, cujo nome não consigo pronunciar. Devia ser o irmão, amigo ou qualquer um que precisava ganhar 30 dólares. O carro nem era táxi e o meu medo era quebrar no caminho. Nem deu tempo de pensar muito se a gente aceitava ou não a nova condição.

Acontece que estava chovendo, o caminho era escuro e começamos a achar que estava passando muito dos 20 minutos que o recepcionista do hotel disse que levaria até o aeroporto. Começamos a nos preocupar e a nos arrepender. E se ele nos levasse para qualquer outro lugar? E se tivesse uma arma? E se fizesse parte de uma quadrilha? Perguntávamos se o aeroporto estava perto e ele respondia “no”. Estava longe então? “no”. Aí ele se encheu e parou de responder qualquer pergunta em língua alienígena.

Eu e o Zeca já estávamos combinando quem ia pegar no volante e quem ia agarrar no pescoço do motorista quando vimos uma placa salvadora: letiste (com o símbolo internacional dos aeroportos, um avião). O maluco nos deixou no desembarque, na chuva, pegou o dinheiro e se arrancou – afinal, estava louco para gastar as 600 coroas que o casal de turistas deu para ele. E sem trocar uma palavra.