quinta-feira, abril 12, 2007

Mistura para a janta


"Vou sair do serviço mais cedo para fazer a janta do meu marido, não tem mistura em casa hoje", disse a minha amiga.
Fiquei pensando na frase e algo não soou bem. Mistura? Leia-se carne, que pode ser peixe, frango, boi, porco, coelho, peru. Há os que classificam de mistura os acompanhamentos, como oslegumes, o purê, as batatas. E também os que falam do arroz e feijão, já que mistura tudo no prato.
Sei lá, só sei que eu nasci em São Paulo e aprendi a falar deste jeito também, meus pais falam assim, mas o fato e que comecei a pensar que não faz sentido. Minha irmã que mora em Belém disse que ninguém sabe o que é mistura por lá.
A bem da verdade, nunca ouvi ninguém falar deste jeito fora do estado de São Paulo. Melhor dizer acompanhamento, guarnição ou mesmo carne. Direto ao assunto. A mesma coisa é a janta. Sempre falta um R. “Tem janta hoje?”, não, tem jantar. O Aurélio me deu apoio nisso. Janta somente a terceira pessoa do singular do verbo. E o serviço pode ser substituído pelo trabalho, que é mais moderno. Quem está no serviço provavelmente atua numa firma, e não numa empresa. Será que essa pessoa tem freguês? Quem está na área comercial de uma empresa tem clientes. Daqui a pouco, eles vão evoluir para parceiros de negócios.
Na escola, a gente falava que tinha aula de física. Não se trata de cálculos estruturais, mecânica, óptica, nada disso, era esporte mesmo, ou seja, aula de educação física, o que gera uma certa confusão. E o iogurte era o danone, já que era a única marca do mercado. Termo que ninguém usa mais hoje pelo mar de opções que disputam hoje as prateleiras dos supermercados. Nada disso está errado, a lingüística existe para dizer que o importante é se fazer entender. Mas acho que vale a pena uma reflexão sobre o nosso vocabulário. Afinal de contas, a língua é dinâmica e não é de todo mal acompanhar as mudanças. Agora com licença que vou fazer uma laranjada para o patrão.