segunda-feira, agosto 14, 2006

É proibido proibir


Quando eu tinha 10, 12 anos, meu pai me perguntou se eu gostaria de fumar cigarro. Antes mesmo que eu respondesse sim ou não, ele já foi explicando sobre os males do tabaco: mau hálito, dentes amarelos, câncer no pulmão, problemas cardíacos e mais uma infinidade de outras doenças que eu nem sei se existem mesmo. Sem falar que você está queimando dinheiro, literalmente. “Mas ainda assim, podemos comprar para você experimentar agora mesmo, faço questão de dar o dinheiro”, disse ele, com um sorriso nos lábios.

Pensei e falei ao mesmo tempo, atropelando palavras e pensamentos, não sabia se primeiro negava a vontade que até o momento nunca existira ou se dizia que não queria queimar o dinheiro com isso, nem para experimentar. Pronto, não era mais proibido, podia experimentar a hora que quisesse. Era só pedir para o meu pai que ele daria o dinheiro, sem contestar.

O tempo passou, na escola muita gente fumava, oferecia cigarros, mas eu não sentia o menor interesse. Uns dois anos mais tarde, lá vem meu pai com novo discurso, mais afinado com a fase de adolescente do sexo feminino. “Se você por acaso engravidar, eu vou te dar todo o apoio que você precisar. Se você abortar, te ajudo. Se quiser ter o filho, também te ajudo. Mas as conseqüências são essa, essa e essa........ Por isso, o melhor mesmo é que não aconteça sem planejamento.

Bomba, por essa eu também não esperava, principalmente de um cara que nasceu em Piracanjuba, interior de Goiás. Em termos de machismo, acho este Estado só perde para o Clube do Machão Mineiro. Do alto da sua baixa instrução e muita sabedoria, percebeu que o que é proibido só traz estímulos. E sem nenhuma censura, sem proibir nossas saídas, viagens com amigos e os bailinhos, manteve a mim e a minha irmã afastadas de tudo que mais aflige os pais: vícios, cigarros e uma gravidez indesejada.

Não tenho filhos, mas se eu fosse responsável pela educação de alguém eu faria o que a Elis Regina consagrou na música “Como Nossos Pais”. Eu faria igualzinho a ele.

12 comentários:

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Foi bem bacana a atitude do seu pai, Estela! Acho que quando a gente quer reproduzir a educação que os nossos pais nos deram a gente tem um "norte" não só p/ educar os próprios filhos, como para toda a vida. Bem legal o texto e vem a calhar por conta do Dia dos Pais!

Anônimo disse...

adorei o post Estela. Mto interessante e propício para o dia dos pais...rs

Anônimo disse...

Isto sim é que é ser um pai de verdade! Também quero aprender muito com ele. Parabéns pelo texto e, principalmente, pelo pai.

Anônimo disse...

Hola como estas Star, ya pude ver tu Blog...Saludos de tu Amigo Mexicano LuisM...

Bruno Ferrari disse...

bom! muito bom!

Denise Sammarone disse...

Não sabia que você tinha um blog!!!! Já está nos meus favoritos.
Para comentar seu post ótimo.
Ao contrário de você, cigarro -- diferente de outros assuntos -- era um tabu na minha infância. Sou fumante desde os 14 anos. Bobagem. Qualquer dia desses eu paro ou não... rs... Beijocas.

Unknown disse...

te achei no blog da fran e adorei o pai que vc tem. Parabéns! Muito legal as metodologias adotadas por ele...não sei se minha mãe ou meu pai criaram o estigma negativo do fumo em casa... eles eram bem pacíficos, já eu...uma revoltada por natureza e comecei desde 14 a fumar escondido... e adoro esse vício fdp...Mas vou usar o exemplo do seu pai com minha filhota. brigadu!

Anônimo disse...

muiiiiiiiiiiiiiiiiito legal esta história e a atitude inteligente do seu pai. se todos os pais de todos os brasileiros fossem como o seu, certamente não veríamos tantas coisas runis por aí...
bjo,

Anônimo disse...

Agradeço a todos que manifestaram seu pensamento a respeito da orientação de um pai, Antônio, a suas duas filhas Malu e Estela

Anônimo disse...

Gostei da homenagem. Sua irmã confirma a veracidade dos fatos, inclusive havia me esquecido destes detalhes, que foram mais marcantes para você do que para mim.No meu caso, parece que estes valores se incorporaram por "difusão passiva". Mas é bom reconhecer o que há de bom na nossa educação.
Bjs,
Malu

Anônimo disse...

Desculpe. Mas dizer que o Estado de Goiás é assim tão machista é uma generalização que não esperava de uma colega jornalista...

Anônimo disse...

Estela p0r tras de um grande homem existe sempre uma grande mulher.