quinta-feira, agosto 17, 2006

Havia no caminho uma pedra

Não vejo nenhuma diferença entre a Medicina e o Direito. Ambas usam palavras comuns com significados impróprios e exploram ao máximo a preparação dos seus executores. A melhor das técnicas pode ainda ser vencida ou refutada quando uma doença ou uma sentença acontecem de forma inesperada em relação ao comportamento previsto, justo no seu caso. Adianta saber que o efeito em 98% dos casos é diferente do que ocorreu com você?

Vou dar um exemplo. Sexta-feira estava gripado e com muita dor nas costas. Quase não dormi e às 7h00 já estava pedindo carona até o hospital mais próximo, carregava na mão as três carteirinhas de convênios para não perder tempo.

Lá, me apontaram três possíveis causas: rotavírus da gripe, cálculo renal ou apendicite. Felizmente ninguém me perguntou se era gravidez, mesmo com os sintomas de enjôo e ânsia, talvez porque nenhum dos meus três convênios tenha catalogado no manual de instruções este código para homens.

Cerca de 24 horas depois, já em SP, os médicos, com a ajuda dos exames, acharam a causa: um simples cálculo renal proveniente de muita picanha, fraldinha, cupim e outras carnes suculentas, sem a correspondente parcela de cerveja ou água.

Foram três dias internados porque a pedra estacionou num ponto que não dava para fazer o bombardeamento sem causar uma hemorragia. A solução proposta era enfiar um negócio em mim, naquele lugar mesmo que você imaginou, para buscar a pedra e deixar no lugar um “caninho intrauteral em J” por uns quinze dias para não colapsar a uretra, quando então teria que fazer uma outra intervenção cirúrgica para o intruso da uretra.

Um procedimento cirúrgico como o do “caninho”, 30 vezes maior do que a pedrona que me incomodava tanto naquele momento, seria mais invasivo e menos arriscado. Eu, de avental aberto, resignado na cadeira de rodas ou andando como uma grávida, já nem me preocupava mais se visualizassem minhas partes antigamente íntimas.

Para quem pôde comparar, mulheres dizem que a dor do cálculo é igualmente dolorida a da gravidez. Achei isso injusto! Lembro que as mulheres são muito mais resistentes a dor do que os homens! Mesmo assim, talvez entenda agora, por simpatia, o que signifique aquele estado puerperal descrito no Código Penal, onde a pena é reduzida quando a mãe mata o feto logo após o seu nascimento por um transtorno temporário em seu estado de espírito. Se a dor da gravidez é parecida, querer matar a pedra não me parece estranho!

Falando em coisas estranhas, descobri nos exames que tenho três rins e começo a reavaliar com meu único coração se adotar uma criança não seria um risco menor para perpetuação da espécie humana e garantia do sobrenome, sem os genes, por mais de uma geração.
Penso ainda no “caninho em J”. Para que lado ficaria a perninha do jota? Como assim? Melhor não saber ...

Adriano Campos de Assis e Mendes
Advogado

4 comentários:

Anônimo disse...

o pior é que sempre precisaremos dos dois. uma hora ou outra. risos.
e graças a Deus que vc está vivo, Adriano. UFA! que susto.
saúde pra vc.

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Estelita, tem um convitinho lá no Consulta. Take it please.

Anônimo disse...

A diferença clássica entre advogados e médicos é que o médico para de tirar dinheiro do cliente quando ele morre

Anônimo disse...

Adriano, hoje através de exames descobrimos que minha filha, que completa 19 anos dia 26 de dezembro possui três rins, apavorado que estou, procuro na internet comentários sobre.
Você pode falar algo. Por favor.

Meu e-mail: marcos@bananaouro.com