
É ruim sentir saudades, mas tem um lado bom em passar um tempo longe do seu país. Você pode aloprar à vontade que ninguém vai te julgar. E nem podem, porque para quem pinta o cabelo azul, usa saia estampada com calça xadrez, sai fantasiado na rua para tomar todas as cervejas dos pubs e deixam as cuecas aparecendo porque acham lindo andar com a calça caindo, tem moral para falar o quê? Por exemplo, vou fazer compras com uma mala de rodinha para não carregar peso – é ridículo, mas ninguém me conhece mesmo....tô nem aí. Ando com a roupa amassada, canto música brasileira que ninguém entende e de quebra estou frequentando aulas de break dancing. Nas festas de brasileiros, danço tudo quanto é samba, salsa, forró, reggaeton (que aqui classificam como música brasileira ) e até o funk das cachorras. Só não criei coragem para dançar na boquinha da garrafa, que rola em quase todas as festas. É a famosa diáspora, a gente precisa encontrar os iguais de vez em quando, embora eu não tenha vindo aqui para isso. Mas é muito legal poder fazer um pão de queijo, manjar, queijadinha, falar palavrão em português sem correr o risco de não ser entendido.
O que não é muito fácil é entender as contradições desta sociedade, talvez por isso a gente precise se relacionar com culturas mais acessíveis aqui. Por que eles chamam todo mundo de ‘love’, mas se de fato eles não querem nem fazer amizade? Por que eles vendem roupa de verão se não faz calor? Por que tem gente pelada na televisão o tempo todo se eles são tão tímidos? Por que todo mundo gosta de ler fofoca mas quase não falam? Por que tem duas torneiras na pia com águas que não se misturam, uma queima e outra congela? São perguntas que não querem calar. E a água ainda vai pelo ralo pelo lado contrário, só porque estou no hemisfério norte...isso já é demais!