domingo, novembro 05, 2006

Um letiste, por favor!

Visitar um país em que se fala uma língua alienígena é um desafio. Como fazer as pessoas entenderem o que eu preciso sem trocar uma única palavra? O meu sonho de conhecer Praga, capital da República Tcheca, tinha este porém. Mesmo de posse de um dicionário, não dá para imaginar como pronunciar palavras com quatro consoantes juntas. Como é que eu vou pedir um sorvete? – zmrzlina!!

A boa notícia é que muitas vezes não precisamos falar. Os tchecos também acham nossa língua tão impronunciável quanto o inglês, o espanhol e o francês. Quer um sorvete? Aponte na vitrine que o balconista vai saber o que você quer. Comprou uma água na rua e quer entrar no supermercado? Dirija-se ao segurança e mostre o produto, ele providencia uma etiqueta e ninguém vai te cobrar duas vezes.

Quando dá tudo certo, não há nenhuma necessidade de trocar uma só palavra, nem na imigração. Basta entregar o passaporte e o seu interlocutor mal olha para você. Mas em pelo menos um momento lamentei não ter feito um curso rápido de tcheco. Foi quando precisamos de um táxi às 4 da manhã para pegar um vôo de volta para o Brasil. Combinemos com o taxista que nos trouxe do aeroporto quando chegamos, bem no estilo “Mim Tarzan – you Jane” - a nos buscar na volta às 4h00 da manhã. “No probleme, no probleme”, garantia ele.

Só que na hora combinada chegou outra pessoa no lugar do Yivî, cujo nome não consigo pronunciar. Devia ser o irmão, amigo ou qualquer um que precisava ganhar 30 dólares. O carro nem era táxi e o meu medo era quebrar no caminho. Nem deu tempo de pensar muito se a gente aceitava ou não a nova condição.

Acontece que estava chovendo, o caminho era escuro e começamos a achar que estava passando muito dos 20 minutos que o recepcionista do hotel disse que levaria até o aeroporto. Começamos a nos preocupar e a nos arrepender. E se ele nos levasse para qualquer outro lugar? E se tivesse uma arma? E se fizesse parte de uma quadrilha? Perguntávamos se o aeroporto estava perto e ele respondia “no”. Estava longe então? “no”. Aí ele se encheu e parou de responder qualquer pergunta em língua alienígena.

Eu e o Zeca já estávamos combinando quem ia pegar no volante e quem ia agarrar no pescoço do motorista quando vimos uma placa salvadora: letiste (com o símbolo internacional dos aeroportos, um avião). O maluco nos deixou no desembarque, na chuva, pegou o dinheiro e se arrancou – afinal, estava louco para gastar as 600 coroas que o casal de turistas deu para ele. E sem trocar uma palavra.

5 comentários:

Anônimo disse...

Entendo perfeitamente o que significa dificuldade de comunicação. Mas acho que essas situações são muito boas, pois nos dá mais coragem. Percebemos que é possível "se virar" e chegar ao objetivo, ainda que com alguns desvios. E acho que isso é uma experiência que serve para muitos aspectos da vida. Adorei o texto!

Fabiana Lopes disse...

haahahah... eu dei mta risada com o seu relato. Dá pra imaginar a cena direitinho. E eu no seu lugar tinha descido na primeira esquina...
O texto tá ótimo. Super legal.
Bjos

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

que aventura, hein?? me manda a foto de liverpool?? bjs (correria...)

Anônimo disse...

huahuahua. ótima sua história, estela. realmente, foi uma aventura e tanto, com direito a alegria, desespero e quase choro, hein? eu também já estaria preparando um plano de ataque ao taxista assassino. aliás, que bom que vc estava acompanhada. já pensou se estivesse sozinha nesta cena? tudo bem que o taxista era do bem, mas o medo e o pânico nos vários minutos dentro do táxi poderiam proporcionar um infarto.
qd vc foi? aproveitou bastante?
bjo,

Anônimo disse...

Aconteceu comigo uma situação muito parecida na India, outro lugar de língua alienígina, o indi. Para quem não sabe, poucas pessoas falam o inglês por lá apesar dos britânicos terem o domínio do país por tantos anos. O taxista não sabia nem falar táxi em inglês. Fizemos um percurso de 250 km - de Dehadrum a Delhi - em incríveis 8 horas, quase perdemos o avião. O medo de ficar lá foi tanto que aprendi rapidinho como ler a palavra Delhi em sânscrito... Foi um alívio chegar no aeroporto. Estela, você retratou bem a situação e dei boas risadas com o texto. Na próxima tente um curso internacional de "como se comunicar com taxistas que não sabem inglês" antes de viajar...hehehe
Malu