quarta-feira, julho 05, 2006

Bicho do Mato

O brasileiro Tobias adora bola, mas detesta Copa. Faz loucuras por uma pelota a qualquer hora do dia ou da noite, mas odeia gols. Não importa se do Ronaldo, do Adriano, do Kaká, do Gilberto, do Juninho Pernambucano ou de quem quer que seja. Não festejou nenhum gol da seleção, odiou cada um deles. Mas, com certeza, correria atrás da bola se tivesse oportunidade de estar lá na Alemanha dentro do campo. Afinal, herdou o nome de um dos grandes goleiros do Corinthians, na década de 70.

Pra ele, melhor seria uma Copa sem gols, sem uhhhhhhhs da torcida ou qualquer outra manifestação ruidosa de apoio ou repúdio. Tobias acompanhou pela TV todos os jogos da Seleção Brasileira e sofreu muito mais do que todo mundo a cada passe errado, a cada lance de perigo e, principalmente, a cada gol marcado pelo Brasil, e de quebra por Portugal também.

Se era pra ficar de fora da Copa, já podia ter saído na primeira fase, de preferência com empates sem gols no tempo normal, sem gols na prorrogação e, se possível, um único gol na cobrança de pênaltis, e do adversário, é claro. Silenciosamente, Tobias comemorou a desclassificação brasileira como um grande feito, mesmo assim, só depois de algumas horas de passada a consternação. Pentacampeão já é o máximo, pra que hexa?

Para o Tobias, o fato de a Copa ser em junho até que lhe trouxe um benefício: ofuscar totalmente as Festas Juninas e seus rojões, seus morteiros, seus traques e balões. Ainda bem que ninguém pensou em festas julhinas.

Para ele, o melhor dos mundos seria aquele sem gols, sem rojões, sem buzinaços e sem trovões, sem aviões. Tobias faz festa pra tudo, pra amigos, conhecidos, jovens, adultos e crianças, principalmente crianças. Ele tolera tudo, até que lhe puxem o rabo, sentem em cima das suas costas, peguem a sua bola preferida, mas odeia gols, apitos, estouro de balões e de portas batendo e da campainha do interfone ou qualquer som grave, agudo ou estridente.

Mas o que fazer, quando se é um Lhasa Apso, mora-se em São Paulo, e se tem audição quatro vezes mais sensível do que qualquer ser humano: detestar gols é o mínimo. A torcida do Tobias daqui pra frente, até a próxima copa, é que faça sempre tempo bom, sem chuvas (chuva pode), mas sem trovoadas! Até lá, terá nove anos e, talvez, menos acuidade auditiva do que hoje, mas ainda vai tremer (de medo) com os gols que esperamos o Brasil faça na África do Sul.

Zeca Videira

4 comentários:

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Welcome, dear!!

Anônimo disse...

nossa, audição quatro vezes mais sensível? tadinhos. gatos tb ficam super assustados com os fogos e muita barulheira...

Anônimo disse...

Quem tem cachorro sabe o sofrimento deles. Boa Videira. E boa sorte nos novos textos, que reflitam o lado esquecido da vida (e resgatado pelos bons cronistas que olham no sentido oposto da ultidão). - Alex

Anônimo disse...

Gostei papai.E você tem razão,coitado do Tobias