

Nos anos 70, as crianças aprendiam a ler aos sete anos, quando começavam a vida escolar. Por isso, considero um privilégio o fato de eu ter aprendido a ler e a escrever aos cinco anos. E como se fosse uma brincadeira, já que a minha irmã, um ano e meio mais velha, voltava da escola e queria me ensinar tudo que ela havia aprendido. E do mesmo jeito que a professora fazia: “Hoje vamos aprender uma letrinha muito bonitinha, que tem uma perninha no final....” e escrevia na lousa a letra “a”.
Quando meus pais perceberam, a menina de sete anos já tinha me alfabetizado. Por isso, no ano seguinte, quando entrei na escola para valer, fiz tudo com o pé nas costas. E quase todos os anos foram assim, já que estudávamos na mesma escola. A minha irmã me ensinava tudo o que iria aprender no ano seguinte.
Talvez a vocação da Malu pela carreira acadêmica tenha se manifestado nesta época. Sempre gostou de explicar as coisas, ensinar e disseminar tudo o que ela conhece. Depois da faculdade de biologia, fez mestrado, doutorado e se tornou professora na Universidade Federal do Pará, onde trabalha com botos, papagaios e qualquer bicho que aparecer pela frente, até com uma cobra que ela achou atropelada numa das ruas de Belém.
Não foi fácil para ela largar a vida em São Paulo, onde tinha a mim e meus pais, amigos e toda a estrutura urbana da maior cidade do Brasil. Mas o amor à profissão falou mais alto, o marido, Jacques, foi junto com ela e eu assinei embaixo a decisão, porque acredito que é sempre bom tentar, pelo menos para saber se vale a pena. Se ela não se arriscasse nessa empreitada, ela nunca saberia que é lá que pode exercer muito do que aprendeu até então: ensinar, estudar os bichos e ser útil às pessoas.